segunda-feira, 7 de julho de 2014

Malditas Bexigas;

Eu já fiz muitas coisas questionáveis e passíveis de julgamento alheio durante toda a minha vida. Já escrevi e gravei um livro co autoral quando eu tinha 7 anos com outras crianças da mesma idade, já gravei um CD de piadas e, pior, já apresentei um show de piadas, do tipo que faria sua mãe morrer de rir e ao mesmo tempo te faria morrer de tristeza.
Mas ainda não é o momento para essas histórias.
O momento para uma história de arrependimento é agora, no exato momento em que lhes conto isso.
É como se eu estivesse abrindo meu coração e chorando nos ombros do Chico Picadinho e esperando ouvir palavras de conforto.

Se você não sabe quem é Chico Picadinho sai daqui e vá ler, depois e só depois volte.

Pois bem: Era lá pros idos de 1999. Eu ainda era uma criança de muitos machucados e alguns poucos sonhos.
Na época eu tinha acabado de completar 6 aninhos e era um ser muito feliz.
Mas eu tinha gostos muito estranhos que eram nutridos desde uma certa idade p-or um tiu meu.. não, eram só gostos estranhos.

Um dia lá pros 3 anos de idade eu entrei no meu guarda-roupa, e era muito legal. Eu cabia lá, as roupas tinham cheiro bom e era tudo fofinho. Então, eu comecei a entrar lá mais e mais vezes quando não estava me sujando na terra ou na rua ou correndo ou qualquer outra coisa que criança faz.

O grande problema é que dos 3 pros 6 anos eu cresci muito, uns 30 centímetros. Então pra minha mãe acabou virando um inferno ter de arrumar tudo novamente sempre que eu entrava lá.

Agora uma pausa pra um dado quase científico.

Eu não sei como é para as outras pessoas que perdem só parte da visão, mas pra mim é assim. Pra quem não sabe eu só tenho dez por cento de visão do olho esquerdo, o que em dados percentuais não é nada.
O X da questão é que até da pra eu me virar, mas eu tenho um problema muito grande em identificar formas e texturas a mais de 10 metros de mim. Isso significa que não importa o quanto eu force meu olho, se está a mais de dez metros de mim o objeto azul vai parecer só um objeto azul sem muita forma definida e textura, não importando que ele seja uma bola de golfe, um sapato, uma raquete ou um pintinho azul da Malásia.

Pois bem: Feito o disclaimer, eu tinha alguns traumas bobos da época de criança. O maior deles era o medo de bexigas, especialmente as azuis.
Eu nunca tinha tocado em uma bexiga até os meus 6 anos, e pra mim elas só pareciam coisas azuis esquisitas que quando soltas do ar pro chão pulavam pra todo lado a busca da sua liberdade e do sangue vindouro de pescoços humanos. Isso por que eu sempre ficava longe delas e só as via como objetos que refletiam a luz, pulavam e faziam sons estranhos quando tocavam o chão.

Sim, bexigas fazem sons muito estranhos quando tocam o chão ou uma superfície plana.

Eis que um dia eu venho da rua, tomo um banho e me preparo pros meus 5 minutos de não fazer nada no silêncio confortante de dentro do guarda-roupas. Minha mãe tinha saído pra igreja, minha irmã não morava mais conosco e então seria só eu e o meu mundo escuro de madeira com cheirinho de amaciante.
Eis que eu entro no Guarda-roupa e;

Minha mãe, num ato de disciplina e educação, prevendo que em algum momento eu adentraria aquele guarda-roupa que mal me cabia mais colocou um conjunto de sei lá, umas 10 bexigas no topo do guarda-roupa. Quando eu entrei eu acabei deslocando as calças que ficavam embaixo e, na visão da criança Jonas de 6 anos de idade e que nunca havia tocado uma bexiga seres assassinos invadiram o seu guarda-roupa e queriam matá-lo.

Era algo que faria pessoas rirem e ou chorarem ao mesmo tempo.
Quanto mais eu me mexia dentro daquela merda, mais as bexigas ficavam batendo umas nas outras e nos cantos do guarda-roupa e voltavam com mais força em mim.
Lembro da pior sensação de medo que eu já senti que foi quando uuma ou umas bexigas encostaram no meu pescoço, e eu só senti aquela superfície lisa e sem calor no toque querendo me enforcar.
Foi horrível.

No meio daquela zona toda eu lembrei de um Globo Reporter ou algo assim que passava na TV que falava que se tu não se mexesse diante da maioria dos animais eles não te atacariam.
Então eu me dobrei todo no meu cantinho, e empurrei umas roupas pra frente da minha perna. Como um resultado disso as bexigas meio que se empilharam e ficaram pro outro lado da roupa. Eram uns 5 centímetros, mas pra mim aquilo significava paz e salvação até minha mãe chegar.
E pra que minha mãe chegar?

Aí é que está: Outro dos meus traumas de criança era altura. E meu guarda-roupa era aqueles com duas gavetas grandes em baixo, então a porta devia ter uns 50 centímetros do chão. Não é nada, mas era o suficiente para assustar o cego Jonas.
Sempre que eu entrava lá era minha mãe quem me tirava. Mesmo em escadas grandes as vezes as pessoas tinham que me dar a mão e ou me pegar no colo.
Isso ocorria porque até os meus 8 anos eu meio que não tinha aprendido a olhar direito. Hoje em dia, por exemplo, se eu vou descer uma escada eu calculo o tamanho dos degrais pela sombra que fica no degrau de baixo. Assim eu nunca erro. E o medo de altura eu perdi forevah quando eu fui no Hopi Hari, mas isso talvez depois.

Pois bem. Lá estava o Jonas no cantinho do guarda-roupa apenas desejando não ter entrado lá e pedindo pras bexigas não lhe atacarem. Ele tinha que fazer uma coisa simples, que era esperar sua mãe chegar. Ah sim, ela não estava em casa.
Deve ter demorado uns 20 minutos, mas na minha cabeça foram horas intermináveis. Eu acho que nem a mais bagunçada das mentes pensou em tantos jeitos de se poder ser assassinado por bexigas. Deste elas te engolindo por completo a até elas se enrolando em mim, tudo passou pela minha cabeça.

Minha mãe chegou, me tirou de lá e daí em diante eu só sei o que ela me contou. Eu desmaiei, acordei na cama e as bexigas estavam lá. Antes que eu pudesse correr minha mãe me segurou, pegou uma das bexigas e estourou na minha frente, bem perto do meu rosto.
No reflexo eu peguei os restos mortais da bexiga e me assustei ainda mais, era muito mole e continha alguns poucos pingos de saliva de quem encheu ela. Na minha cabeça algo tão grande não poderia ser na verdade algo tão pequeno, então eu comecei a chorar.
Aí minha mãe me disse algo como:

Elas são só coisas que a gente compra e enche, olha.

E estourou mais umas 5 bexigas.

Nesse ponto eu já chorava muito, aí ela me deu uma segurando com a mão dela e me pediu pra estourar.
Eu podia ter apertado como ela fez, mas não, eu tinha raiva daquilo. Aí eu dei um soco, quase errei a bexiga e acertei ela e a bexiga caiu e saiu rolando.
Aí eu comecei a chorar gritando como toda criança faz. Ela me segurou com a mão, pegou a porra da bexiga e me disse pra apertar.
Aí lá estava eu tentando tomar coragem e simplesmente apertei com toda minha força abraçando ela.
Quando a bexiga estourou eu senti aquele mini barulhinho no ouvido e chorei um pouco mais, mas aí tinha acabado.

Minha mãe me pediu pra estourar uma a uma s 4 bexigas que sobraram e eu o fiz, mesmo ainda chorando e demorando 5 minutos pra estourar 4 bexigas.
Aí ela me deu um copo d'água, me disse pra ir dormir e que eu podia matar qualquer bexiga. Eu fui dormir me sentindo vitorioso pra caralho.

No fim das contas eu ainda tenho um mínimo trauma de bexigas. Nada que me faça chorar como criancinha, mas me da um certo asco e eu sempre me assusto.
A 14 anos eu não entro em um guarda-roupas e, a não ser que inventem um muito grande, não mais entrarei.

E não contente com isso, e acho que até por ser uma das únicas boas histórias de boa mãe que minha mãe tem comigo, ela sempre conta isso pras pessoas que vão nos visitar em épocas festivas, tão raras épocas festivas.

Por isso fica aí a lição, amiguinhos. Cuidado com as bexigas.
Ah sim, e desculpem pelo post não ser tão engraçado.

Um comentário:

  1. Próximo post com "mimimi não foi engraçado", vou mandar um carregamento de bexigas na sua casa. Vc é hilário e eu ri. VC SABE QUE EU RI.

    ResponderExcluir